A Vale Não Vale Nada!
Em uma surpreendente entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no dia 14/12/2008, o presidente da Vale, Roger Agnelli, defendeu a “flexibilização temporária” de direitos trabalhistas e revelou que conversa sobre o assunto com o presidente Lula.
A Vale foi mais uma das empresas atingidas pela crise econômica mundial. A diminuição das exportações de minério de ferro para a China – maior consumidor do mundo – fez com que a empresa anunciasse recentemente uma redução de sua produção em 30 milhões de toneladas de minério, o equivalente a 10% do total produzido. Junto a isso, a empresa anunciou que pretende demitir 1.300 funcionários e deu férias coletivas para 5,5 mil trabalhadores.
Mas, na entrevista, o presidente da Vale deixou claro que as férias coletivas não bastam. É preciso demitir para assegurar os lucros dos acionistas. “A gente coloca uma outra turma em férias coletivas. Depois outra. A gente pode levar isso por um certo tempo, mas tem limite. O que faremos quando todo mundo já tiver tirado férias? (...) Se houver problemas para os quais a gente não tenha solução, vamos ter de demitir. Olha, estamos vivendo uma situação de exceção. Para lidar com ela, precisamos tomar medidas de exceção.”
Questionado sobre quais seriam as “medidas de exceção”, Agnelli foi taxativo: “Eu tenho conversado com o presidente Lula no sentido de flexibilizar um pouco as leis trabalhistas. Seria algo temporário, para ajudar a ganhar tempo enquanto essa fase difícil não passa”. Ele ainda completou: “O governo e os sindicatos precisam se convencer da necessidade de flexibilizar um pouco as leis trabalhistas: suspensão de contrato de trabalho, redução da jornada com redução de salário, coisas assim, em caráter temporário” .
São de enorme gravidade as declarações do presidente da Vale. Se adotadas, a medida não significaria apenas um golpe contra os direitos dos trabalhadores da Vale, o que já seria muito grave. Estaria aberta uma via para que outros patrões adotassem medidas semelhantes e atacassem os direitos dos trabalhadores de qualquer empresa.
Pois aí vai uma resposta para o "senhor" refletir...
Foram estas mesmas leis nossas (que o senhor agora zomba) que evitaram que fossemos engolidos pela crise como aconteceu nos Estados Unidos. O nível de regulamentação que as leis trabalhistas aplicam ao trabalho e ao sistema financeiro evitaram que os grandes empresários e banqueiros criassem sistemas tão lucrativos porém tão frágeis como folhas de papel crepom.
São estas leis que possibilitaram nosso crescimento como país e potencia regional que é hoje, durante os últimos dez anos, de forma independente e com aspectos de dar inveja até aos países mais desenvolvidos, a exemplo de nosso sistema de eleições 100% eletrônica.
Então não nos venha falar em suspensão temporária de direitos só porque sua equipe não tem capacidade para planejar seus gastos descontrolados. Numa empresa de porte internacional como a Vale, onde analistas não sabem fazer seu próprio trabalho e lançam a responsabilidade de seus possíveis erros para cima dos estagiários, (e essa prática depois de anos ainda dá certo!), significa que não há controle algum! Numa empresa responsável os superiores são incondicionalmente responsáveis pelos atos e serviços prestados pelos funcionários de seu setor, e dever saber tudo o que eles sabem sobre conceitos, normas e processos...
Acorda Agnelli, o AI-5 já passou!
O Sr. Roger pode querer o que quiser. Por enquanto estamos numa democracia que nos confere alguns direitos. Quanto a ser contemplado na sua pedida é uma outra história. Se os nossos políticos atenderem seu pleito então estarão dando o atestado final de incompetência na sua inglória carreira e que voltem ao buraco de onde nunca deveriam ter saído.
ResponderExcluirComentário meu: Temos um Presidente que teima em dizer primeiro que não há crise, depois que a crise não atingirá o Brasil e mais tarde que a crise atingirá o país, mas não de forma aguda, será breve e passageira. Até entendo que por conta do cargo que ocupa não possa tocar fogo no país e endossar como verídicas as análises mais catastróficas.
ResponderExcluirNo entanto, podemos, não tenho certeza ainda, estar diante da maior crise do capitalismo desde a II ª Grande Guerra. Já escrevi sobre essas crises afirmando serem cíclicas e que, o sistema necessita delas tanto quanto vampiros necessitam de vitimas para sugar-lhes o sangue, e medidas no mínimo cautelares urgem. Bom, aí é que está o diabo. O governo na prática vive em enorme contradição, sua marca forte, dum lado aceita a crise formulando pacotes através de Medida Provisória, portanto sem debater com o Congresso, a fim de auxiliar entidades financeiras em problemas e uma após outra medida com intuito de socorrer montadoras – como se exatamente esses dois segmentos não tivessem lucrado gordo nos recentes tempos de bonança. Por outro lado, trata de negá-la ao manter intacta a autonomia do Banco Central que, por sua vez, insisti em nadar contra a corrente mundial e está impertubável na disposição de não mexer em nossa exorbitante taxa de juros, a maior entre os terráqueos.
Agora me aprece essa declaração do presidente da Vale, cavalheiro este, cujo o Presidente da República – segundo a grande imprensa, e, convenhamos, isso não deve ser levado muito a sério – tem entre seus interlocutores privilegiados.
Declarações como essa em tempos de crise me soariam ridículas, caso não fossem dum oportunismo grosseiro.
Declarações grosseiras... E muito perigosas devo adicionar... No momento em que colocam nossos direitos em questionamento e palpitam na boca de velhas forças desejosas de voltar ao poder.
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